Assim como os perfumes, a gastronomia ou a moda, a bicicleta é um forte símbolo da cultura francesa. O mais funcional e menos poluente meio de transporte de todos os tempos pode ter sua origem atribuída a inventores de diferentes nacionalidades, mas o fato é que foi em Paris, em 1818, que o alemão Karl von Drais apresentou oficialmente o seu invento para, meses mais tarde, fazer o trajeto entre as cidades de Beaune e Dijon, com o objetivo de torná-lo conhecido.

Quase um século mais tarde, a paixão pelas duas rodas fez surgir, em 1903, o que é hoje a mais importante prova do calendário do ciclismo mundial: o Tour de France, ou “volta da França”, competição anual que percorre diversas regiões do país ao longo de 23 dias, tradicionalmente no mês de julho, terminando na Avenida Champs-Elysées, em Paris.
A bicicleta, ou vélo (pronuncia-se “velô”) está estreitamente ligada ao DNA francês. De acordo com uma pesquisa realizada pela Union Sports & Cycle, uma associação de empresas do ramo de esportes e lazer, um em cada cinco franceses que habitam em grandes cidades (com mais de 100 mil habitantes) a utiliza para se deslocar em seu trajeto casa-trabalho.
As motivações desta escolha são variadas e incluem desde o simples prazer de pedalar ou a contribuição para um meio ambiente menos poluído até a necessidade de driblar outra tradição nacional, a greve de transportes, um poderoso instrumento de protesto do qual a sociedade francesa se vale com frequência para sensibilizar seus dirigentes.
A adesão em massa dos franceses às duas rodas levou o ministério da ecologia a anunciar um projeto chamado Plan Vélo, em 2018, com a perspectiva de um aporte de 47,3 milhões de euros à execução de 152 projetos para desenvolver uma rede visando não só implantar ciclovias, mas principalmente resolver a questão da descontinuidade dos trajetos que, assim como ocorre por aqui, expõe os ciclistas a grandes riscos.
A construção de passarelas, a recuperação de pontes e o planejamento de cruzamentos viários visando torná-los mais seguros estão no programa, com o objetivo de triplicar até 2024 a participação da bicicleta nos deslocamentos diários da população.
Particularmente em Paris, cuja área é de 105,4 quilômetros quadrados, a prefeitura se comprometeu a ampliar a rede de ciclovias de 700 para 1.400 quilômetros até 2020, quando se encerra o mandato da prefeita Anne Hidalgo. A associação Paris en selle (ou Paris sobre celins) que reúne os “bike-entusiastas”, porém, prevê que será cumprida apenas metade deste plano, o que já será um ganho. A entidade possui uma agenda de reuniões públicas e promove encontros para a discussão de ações tendo em vista a melhoria do ambiente para os ciclistas parisienses.
A título de comparação, a Cidade de São Paulo, com 1.521 quilômetros quadrados, sendo quase quinze vezes maior que Paris, possui 503,6 quilômetros de vias com tratamento cicloviário, de acordo com a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). Talvez nos fizesse bem uma associação nos moldes da Paris en selle.
Quer se divertir com um filme de animação incrível, que tem o Tour de France como pano de fundo? Assista Bicicletas de Belleville (Les triplettes de Belleville), disponível em versão completa no Youtube.
Quer aprender francês para saber ainda mais?
Deixe um comentário